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Arquitetos: AAU ANASTAS
- Área: 633 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Mikaela Burstow
Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado ao lado da praça da Natividade, em Belém, o projeto Dar Al Majous consiste em uma restauração de um edifício residencial histórico do século XVIII. A proposta destaca a mudança entre o uso doméstico e público do edifício. Assim, são criadas novas passagens, surgem novas perspectivas sobre o antigo edifício e um novo espaço coberto é construído. As escadas projetadas unem os quatro pavimentos, trazendo vida para o pátio interno do edifício. A cobertura completa a parte inacabada do edifício ao mesmo tempo que revela um pouco da riqueza dos espaços interiores abobadados da rua. A estrutura do espaço coberto é de pedra maciça e se apoia em elementos da intervenção ou em pontos estratégicos do edifício histórico.
O edifício histórico de Dar Al Majous tem uma arquitetura claramente moderna porque se baseia nos sistemas construtivos e não nas formas. Como tal, é mais dinâmico e potencialmente adaptável. A riqueza de sua diversidade é resultado do uso de espaços tipológicos. Nesse sentido, a flexibilidade do edifício é excepcional. Os espaços genéricos se destacam porque são abstratos, podem se adaptar ou transformar e podem ter qualquer tamanho. Compreender a extrema influência moderna do vocabulário arquitetônico das cidades palestinas ajuda a entender melhor a escala da cidade e a relevância de questionar sua contemporaneidade. Não deixa espaço para reproduções estáticas, românticas, folclóricas da arquitetura antiga: clama por uma arquitetura que possa se ajustar, mudar ou se reinventar à luz de novos cenários potenciais.
Nesse contexto, o projeto de Dar Al Majous concentra-se na capacidade do edifício existente e seus atributos para absorver funções que não eram inicialmente previstas.
Do residencial ao público - Dar Al Majous é um edifício fechado, construído em torno de um hosh, pátio coletivo aberto, que poderia facilmente ser qualificado como um espaço semi-público. O hosh se estende pelos espaços de convivência em cada nível e oferece, a cada função do edifício, uma conexão com uma área comum que se relaciona com seu entorno externo imediato.
O projeto Dar Al Majous celebra a tipologia hosh como um componente essencial da arquitetura histórica de Belém que muda, através da arquitetura, seu uso habitacional para um uso público. Um novo sistema de circulação é inserido no vazio do conjunto arquitetônico. O projeto conta com a capacidade da tipologia hosh e sua relação com os demais espaços ao seu redor para se adaptar a novos usos. É pensado como um sistema que não se define apenas nos limites geométricos do vazio vertical, mas como uma extensão dos espaços abertos que se espalham entre os diferentes espaços fechados. O projeto sugerido cruza a arquitetura residencial e pública na tentativa de absorver novos usos e criar uma arquitetura de novas percepções.
Percepção do espaço - A nova proposta inclui escadas diagonais separadas, cada uma servindo como uma parte dos espaços abertos entre o hosh e os espaços fechados. As escadas penetram além dos limites verticais do hosh, criando novas percepções da arquitetura atual. A nova escada enfatiza a extensão dos espaços comuns em um plano diagonal escultural, estimulando a percepção de espaços e o movimento, sugerindo novas interpretações da arquitetura do edifício. O caminho ao longo das escadas oferece um ponto de vista inédito da estrutura original.
Abóbada de pedra - A relação entre vazio e massa na arquitetura do projeto evolui da parte inferior para a parte superior do edifício. O piso térreo é construído com paredes maciças com salas bem definidas, enquanto o último andar é incompleto com arcos inacabados. Inspirada na desfragmentação da arquitetura do edifício, a proposta acompanha a crescente importância dos espaços vazios e intermediários, definindo todo o espaço da cobertura como uma extensão do hosh com vista para a rua. A geometria da cobertura em abóbada refere-se às complexas abóbadas em leque encontradas nos pisos inferiores. A nova estrutura segue o alinhamento urbano do edifício ao mesmo tempo que revela sutilmente suas nervuras e sua geometria. Esta nova cobertura sugere uma arquitetura do interior que geralmente não é vista da rua e destaca a intersecção da arquitetura residencial e pública como o principal vetor de transformação do edifício.